Fava de Bolota: o design artesanal do Tocantins

Sérgio J. Matos se uniu a artesãos de um distrito de Palmas para juntos criarem peças com a identidade regional do Tocantins


Vamos aproveitar nosso passeio por terras tocantinenses em nosso post da última terça-feira para continuar falando do design produzido no nosso vizinho do norte. Desta vez, o projeto veio do arquiteto Sérgio J. Matos. Sérgio é desses que sabe aliar design ao artesanato e aproveitar o que de melhor a cultura brasileira pode oferecer.

Apaixonado pela cultura nacional, Sérgio imprime em seu trabalho o regionalismo de cada pedaço do país que o encanta. Com essa paixão, se deslocou para Taquaruçu, distrito de Palmar, capital do Tocantins, para trabalhar no Projeto de Estruturação Turística da cidade desenvolvido pela prefeitura.

Os artesãos da região já trabalhavam com a criação de peças feitas em cerâmica, crochê e trançado de palha, mas não imprimiam a cultura da região em seus trabalhos. Foi ai que Sérgio J. Matos entrou para prestar sua consultoria. O designer sabe muito bem captar a essência dos regionalismos e trazer para seus trabalhos. Ajudar os artesãos locais a fazer o mesmo, então, não seria difícil.

Sergio viu na Fava de Bolota a referência central para cumprir sua missão. A Fava de Bolota é uma árvore tão comum no Tocantins que acabou se tornando símbolo oficial do estado. A árvore frondosa de grande porte chama a atenção por suas flores de formato esférico e cor avermelhada e por seus frutos, em formato encaracolado, que nascem em cachos e chegam a atingir 20 centímetros de comprimento.

Sérgio conta que quando chegou a Palmas as árvores, que dão flores apenas uma vez ao ano, estavam todas floridas.  “Sua flor é muito exótica, eu nunca tinha visto”, explicou o designer. Junto às flores aliou o material que seria usado: palha do buriti tratada – além das cerâmicas e crochês já usados pelos artesãos locais. As peças todas possuem como referência a flor da Fava de Bolota.

O trabalho dos artesãos com Matos será oficialmente lançado no dia 6 de setembro em um evento regional de Taquaruçu, o 11º Festival Gastronômico do distrito. Mas o sucesso estimulou Matos a planejar novas viagens para aliar seu trabalho a de outros artesãos em comunidades do Tocantins.

Imagens: Sérgio J. Matos / Divulgação

Rosembaum projeta escola no Tocantins a partir do resgate cultural

Com a ajuda dos alunos, Marcelo Rosembaum e escritório Aleph Zero projetaram nova sede da escola Formoso de Araguaia, na zona rural do Tocantins

Quando propagandas de governo soltam jargões do tipo “a escola é para todos”, Marcelo Rosembaum levou a sério. Na verdade, o arquiteto levou tão ao pé da letra que a escola de todos foi projetada por todos. Estamos falando do projeto da Fundação Bradesco na zona rural de Formoso de Araguaia, no Tocantins (320 km de Palmas), que Marcelo desenvolveu com a ajuda dos alunos.

A Fazenda Canuanã abriga um internato que acolhe 800 alunos da zona rural, onde não há qualquer acesso à educação. A entidade, mantida pela Fundação Bradesco, precisava de uma sede nova para os grandes pavilhões onde dormiam os 540 alunos do Ensino Fundamental 2 e decidiram convidar Marcelo Rosembaum para tocar o projeto.

O arquiteto foi indicado à fundação em decorrência de seu trabalho em outro projeto, A gente transforma, um movimento de divulgação do design da cultura dos povos de cada região, com desenvolvimento sustentável. Afinal, o olhar atento do arquiteto e designer para a brasilidade e a união com a valorização da cultura popular formam a base de seu trabalho.

Para recriar a escola no Tocantins, Marcelo Rosenbaum convidou o escritório Aleph Zero, de Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, para desenvolver com ele o projeto de arquitetura. O primeiro passo foi conhecer de perto os verdadeiros clientes da empreitada: os estudantes. Marcelo, Gustavo e Pedro elaboraram tarefas para as crianças se expressarem com “O que faz de Canuanã minha casa?”.

Os estudantes elaboraram textos, desenhos, pinturas e encenações num festival criativo, com dinâmicas entre alunos e profissionais. Foi dai que o trio tirou inspiração para a nova escola. “Por mais que cada um manifestasse seus desejos individuais, nossa leitura buscava o que era universal”, explicou Gustavo.

A referência foi a regionalidade. Segundo Rosenbaum, os alunos muitas vezes não se reconhecem na cultura a qual pertencem e era preciso mudar isto. Muita madeira e verde foram selecionadas para a criação desse projeto de resgate da cultura das construções nas aldeias. Segundo o diretor da escola, o resultado da nova construção é perceptível no comportamento dos alunos, que após a inauguração dos novos pavilhões estão mais calmos e mais felizes.

Imagens: Divulgação