Chegar a Kortrijk, a partir de Bruxelas, não foi difícil. Os trens têm horários variados e constantes e já estando em Kortrijk, em poucos minutos um shuttle nos leva direto para o pavilhão XPO, onde está o ponto central da Bienal. Estamos falando da 25ª edição da Biennale Interieur, que aconteceu no final do mês passado na Belgica.
A Biennale Interieur é uma organização sem fins lucrativos que atua no campo do design, desenvolvimento de produtos e inovação. Aconteceu pela primeira vez em 1968 e celebrou sua 25ª Bienal no fim de outubro de 2016. É uma aposta constante na singularidade das criações e vêm aumentando seu número de visitantes a cada ano, além do volume de negócios e de marcas de design de renome mundial.
A ideia é incentivar um amplo debate público com o intuito de levar à disciplina do design, contribuindo para um mundo melhor. Este ano, tudo funcionou com calma e ordem. O volume de visitantes foi à medida certa para a estrutura. E se inverter a ordem da frase, seguramente altero o resultado e a conclusão, assim valorizando a capacidade dos belgas em organizar, planejar e saber receber. Os belgas são realmente bons nisso!
Kortrijk é uma cidade pequena, mas o fácil acesso por trem ou carro permite a presença de muitos visitantes num evento que tem duração de 10 dias.
A feira tem curadoria cuidadosa de um time com Kersten Geers Van Severen, Richard Venlet & Joris Kritis, que juntos elegem e homenageiam um designer a cada edição. Nomes como Jasper Morrison e Jean Novel já foram destacados em outros anos. Em 2016 foi a vez do belga Vincent Van Duysen, arquiteto e designer com produtos colocados no mercado e fabricados por grandes marcas italianas, incluindo FLOS, BeB e Poliform.
Muitos eram os espaços destinados a projetos conceituais, uso de diferentes materiais ou materiais com aplicações inusitadas. Restaurantes, bares e exposições foram incluídos na ambientação dos halls possibilitando a interação entre visitantes e criando um ritmo surpreendente. Corredores largos permitindo muita visibilidade do conjunto. Também é impossível não ressaltar o belo pavilhão, climatizado e amplo, com vários banheiros bem instalados.
Atrações
Bar Terra: um balcão em torno de um canteiro de cogumelos, na intenção de criar uma relação entre o visitante e a forma mais primitiva de vida. A luz calma e amarelada focando o centro da imensa mesa de cogumelos leva à reflexão sobre o estágio em que vivemos agora, sobre a complexidade da forma em que vivemos hoje. Projeto de Carolien Pasmans, Bran Aerts e Claudio Saccucci de Stedenbouw, da Bélgica.
Restaurante Nose: nesse restaurante japonês nada poderia tirar o foco do alimento, com sua cor, sabor e, sobretudo, aroma. Projeto simples, limpo com materiais baratos, como espumas e compensado, além de uma enorme mesa de uso coletivo cercada por cadeiras finlandesas do ilustre Alvar Aalto. Projeto de Mayu Takasuci (Tóquio) e Johannes Berry (Cape Town), da Bélgica.
As exposições, montadas entre os stands dos expositores, também despertaram a curiosidade e estimularam a imaginação dos visitantes.
Generation: enfim, uma citação ao design brasileiro. Os Irmãos Campana marcaram presença com a peça Cabana Cabinet. Planejada pela curadoria da feira, com uma montagem simples, mas bastante colorida, essa mostra reuniu diversas peças para contar sobre o período de 5 anos da história do design. Foi possível conhecer como os móveis usados para guardar e organizar coisas foram concebidos ao longo desses anos.
Etage Projects: essa galeria de Copenhagen organizou uma exibição mostrando peças de Michael Marriot, Peter Marigold e Frederick Paulsen a fim de explorar as fronteiras entre cultura, arte e design. Quase como uma brincadeira, a ideia era despertar pensamentos. Também tinha uma montagem simples num pequeno espaço bem iluminado.
Circus: uma grande instalação. Aqui, tudo mais elaborado e sofisticado. Tratou-se de uma tenda de circo, clara, branca, criando contexto para apresentação de produtos das marcas Alessi, Duravit , Taor , Niko , Quick Step , King George , Dekton , De Morgen e Moooi. Continha um bar central rodeado por áreas expositivas das marcas. Espaços conceituais, alegres e divertidos.
Room for a day bed: espaço quase monocromático com luz difusa e suave. Haviam tecidos de lã usados juntamente com peças de metal, além da leveza do cinza, marcado pelo uso de concreto. Destaque para o contraponto no pendente de luz branca, como se fosse uma lua branca iluminando o espaço cinza. Projeto de Johnston Marklee e Jonathan Olivares, dos Estados Unidos.
IDZ: A cidade de Berlin também marcou forte presença com os expositores organizados pelo IDZ Internacional Design Center Berlin. Eles estavam reunidos formando um conjunto interessante, com propostas inovadoras e que com certeza despertam nossa imaginação. O que vi me reafirma que a cidade de Berlin é um polo de produção de criatividade, com gente de ideias leves e desempoeiradas.
De: Vera Santiago (Agência de Design)
Imagens: Divulgação