A fuga do Circo

Manuscrito de Lina Bo Bardi sobre quadro pintado pelo pai revela as memórias da forte figura da arquiteta ítalo-brasileira

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“Meu pai o dedicou a mim, que sempre tive horror de domingos. Os animaizinhos ele tirou de um grande livro colorido com o qual aprendi a ler”, foi assim que a arquiteta Lina Bo Bardi descreve a obra “Domingo – Fuga do Circo” em uma carta ao médico da família e amigo Piero Manginelli em 1975. A pintura foi uma homenagem que seu pai fez à filha entediada com o dia mais famoso por ser o mais chato: domingo.

A obra faz parte do acervo da família de Lina, mas nunca entrou para as exposições sobre a arquiteta. O paradeiro da obra ficou desconhecido por algum tempo, até descobrirem que o quatro – presente de Lina ao médico da família – foi parar nas mãos da psicanalista Marilucia Melo Meireles. Após a morte de Piero Manginelli, seus familiares presentearam a psicanalista com a obra de Enrico Bo.

No manuscrito de Bo Bardi que acompanhou o quadro, ela conta que a obra foi pintada em 1952 por seu pai. “Ele começou a pintar nas longas noites da guerra seguindo uma vocação sufocada por décadas”. Enrico Bo pintou seu primeiro quadro quando já tinha 62 anos de idade. À época do manuscrito, Lina tinha um estúdio em Milão onde expunha as obras do pai.

As pinturas em realismo mágico de Enrico Bo estão em coleções espalhadas pela Itália e pelo Brasil. Atualmente, o quadro está guardado com carinho no consultório de Marilucia Melo Meireles. Ao ser revelado, o manuscrito trouxe a tona um lado doce da forte arquiteta Achillina Bo, conhecida mundialmente por Lina Bo Bardi. A dona dos traços que ergueram o Masp e outros importantes prédios teve sua memória revelada pelo quadro pintado por seu pai há mais de 50 anos.
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O novo velho design

Bowl Chair / Lina Bo Bardi

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Você quer a forma do rejuvenescimento? A Bowl Chair sabe o segredo. Com 61 anos de idade, a peça foi reinventada e apareceu nas passarelas do mundo do design em uma roupagem bem mais despojada. É que a cadeira, arquitetada pela designer ítalo brasileira Lina Bo Bardi em 1951, foi apresentada em uma versão colorida pela marca italiana de mobiliário Arper, no Salone del Mobile do ano passado.

A nova versão, criada pela Arper em parceria com o Instituto Lina Bo e P.M Bardi, baseou-se no único protótipo original existente da cadeira e em desenhos da designer. As coloridas Bowl Chairs foram produzidas em uma edição limitada de 500 peças e o lucro de sua venda será revertido para os projetos sociais e culturais do Instituto Lina Bo Bardi.
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Composta por duas partes – uma concha estofada sobre uma estrutura metálica – a cadeira vem no couro preto e em outras sete cores e opções de tecido. Com suas partes soltas, o assento permanece livre para se mover em todas as direções. É o puro design de Lina Bo Bardi para o nosso Design é Meu Mundo.

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O modernismo de Lina Bo Bardi

Multifuncional, Lina Bo Bardi mostrou que seu talento foi além dos projetos arquitetônicos e criou belas peças de mobiliário

Cadeira Girafa
Sabe aquele museu no meio da agitada Av. Paulista que é parada obrigatória de todos que vão a São Paulo? Pois é, ele é considerado uma das obras mais importantes de uma importante arquiteta que você pode ter na sua casa, a italiana Achillina Bo. Mais conhecida como Lina Bo Bardi, a modernista que projetou o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) 20 anos após sua chegada ao Brasil foi também designer de móveis.

A criatividade da arquiteta formada pela Universidade de Roma explorou todos os tipos de linguagens, Lina foi designer de produção, curadora, professora, ilustradora, decoradora e designer de moda. Lina nasceu em Roma em 1914, aos 22 anos fugiu da Europa para o Brasil e aqui se naturalizou brasileira. No Brasil, Lina Bo Bardi amadureceu sua interpretação pessoal e menos dura do modernismo, com tons mais divertidos.

Durante todo o seu trabalho, Lina Bo Bardi projetou lugares que favoreceram o encontro entre as pessoas, assegurando a sustentabilidade cultural da arquitetura. No campo do design, Lina priorizou a produção artesanal misturando-a com seu inconfundível estilo modernista. Entre suas obras moveleiras mais conhecidas estão a Mesa e cadeira Girafa. A arquiteta projetou os móveis em parceria com Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki em um trabalho com madeira maciça.