“A Butzke deu vida nova para o eucalipto”

Guido Otte, que comprou e assumiu a administração da Butzke na década de 1980, conta um pouco mais sobre a trajetória de uma das maiores empresas de design do país

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No auge da Belle Époque e dos avanços automobilísticos e industriais o sul do Brasil conheceu a Butzke Design, em 1899. Fundada em Blumenau, no município de Timbó (Santa Catarina), por Emil Butzke, a empresa produzia carroças. Quase cem anos depois, com o mesmo nome e sob a administração de uma nova família, a empresa tomou diferentes rumos. A Butzke se especializou na produção de produtos com eucalipto certificado, deixou de lado a fabricação de carroceria e se consagrou com a exportação de peças de alta decoração. Em um papo descontraído com o Blog AZ, o empresário Guido Otte falou um pouco mais sobre a trajetória incomum de uma das empresas de maior sucesso no design nacional.

A Butzke se modificou muito ao longo do século passado, porque a empresa mudou tanto o foco de atuação?

Eu sou engenheiro civil, atuei por um tempo, mas por uma questão familiar acabei trabalhando em uma metalúrgica. Dessa metalúrgica eu saí e comprei a Butzke. Butzke é um nome familiar conduzido por uma pessoa em uma sociedade de irmãos que estavam enfrentando uma certa dificuldade e me venderam a empresa.

A Butzke foi fundada em 1899 e fabricava no passado carroças. Quando eu comprei a empresa em 1983 ela fabricava carrocerias. Logo que a gente comprou, tinha algo que nos chamava atenção e para o negócio fazer sucesso, devemos nos ater a isto. A carroceria é algo de domínio público, qualquer um com uma serra faz carroceria e nossos concorrentes não eram fortes, então nos planejamos a procurar um novo caminho. Foi ai que começamos a trabalhar com móveis práticos para exportação.

O que são esses móveis práticos? Porque vocês se focaram neles?

São móveis pequenos e dobráveis, pois nós já estávamos pensando em uma vida mais econômica, com apartamentos menores. Por uma coincidência, nós começamos a fabricar também embalagens para empresas de veículos, como a Mercedes Benz, General Motors e a Scania do Brasil e isso foi muito importante porque esse trabalho com as montadoras me fez desenvolver algo que eu tinha de sonho, que era trabalhar com madeira profissional.

A madeira profissional é uma madeira com muita oferta e regularidade e vai para o mercado sem depreciar o meio ambiente. Se eu tinha uma madeira profissional e o conhecimento sobre ela, era mais fácil melhorar o meu domínio sobre essa madeira. Eu costumo falar que eu prefiro trabalhar com algo ruim que eu conheço do que com o bom desconhecido.

Mas onde entra a embalagem para empresas de carro nessa história da Butzke?

Os projetos das embalagens vinham especificados pelas montadoras. Eles escolhiam as madeiras, como o pinos ou o compensado naval, e especificavam até o tipo de prego que deveria ser utilizado. Uma das escolhas deles era uma espécie de madeira que já estava praticamente proibida no mercado, então eu queria introduzir o eucalipto como madeira de embalagem. Enfrentamos uma barreira muito grande, eles não queriam aceitar. Eu passei quatro anos insistindo e recebia um não até que um dia eu resolvi especificar qual o tipo de eucalipto que eu queria trabalhar.

O eucalipto é uma espécie de madeira exótica vinda da Austrália e do Timor Leste. Existem 832 espécies diferentes dessa madeira. Então eu fui em busca de determinar uma espécie que tivesse características próximas das madeiras que eles usavam para que eles pudessem fazer os serviços que eles estavam acostumados a fazer na complementação da embalagem. Eu estudei muito o eucalipto, busquei parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo e procurei a Mercedes Benz, General Motors e Scania com a solução. Foi assim que eu consegui mudar a especificação da madeira em duas dessas montadoras. Esse foi o grande momento da minha vida, quando eu conheci bem a madeira e dominei a história do eucalipto, essa foi a base para todo o restante da história da Butzke.

E como que esse trabalho com o eucalipto se aproximou de vez do design?

A Butzke já exportava muito e acabei conhecendo um senhor na Alemanha que tinha uma fábrica de portas e janelas de esquadrias. Ele estava procurando uma parceria para fazer esse trabalho com o eucalipto, algo que ninguém tinha feito no mundo. Ao mesmo tempo estava começando a se fortalecer a necessidade da certificação da madeira, principalmente a certificação FSC (Forest Stewardship Council), um selo que atesta a responsabilidade ambiental da madeira. A Butzke foi a primeira empresa no Brasil que conseguiu se certificar. Então nós lançamos em conjunto as peças, que foram montadas na Alemanha, e todas com certificado FSC. Simultaneamente começamos a produzir móveis de jardim em eucalipto, um trabalho pioneiro no mundo. O eucalipto era conhecido como lenha, a Butzke deu vida nova para o eucalipto.

Como foi a repercussão desse trabalho pioneiro da Butzke?

Foi surpreendente. Com essa questão da certificação FSC e do eucalipto eu acabei virando palestrante, internacional até (risos). A certificação foi importante, pois me abriu o mundo. Havia poucos fabricantes de produtos certificados no nosso meio, então nós fomos bombardeados com pedidos. Nós não vendíamos, nós éramos comprados. Com a estrutura que tínhamos, enfrentamos dificuldades até para responder aos pedidos que chegavam para a empresa.

E como foi a aproximação da Butzke com o design autoral e com designers como Carlos Motta e Sérgio Rodrigues?

Nós começamos a nos dirigir com uma abordagem diferenciada na fabricação de alguns produtos, procurando algo que nos fizesse crescer no cenário com peças mais elaboradas, feitas a partir de designers. Passamos a contratar alguns designers e foi nessa época que conhecemos o Carlos Motta. Houve uma empatia muito grande entre o Carlos e a nossa empresa e disso começou a surgir trabalhos bastante intensos e que ainda vai muito longe. Nós entramos nessa linha de alta decoração já pelos nossos meios, mas se consagrando com os designers de renome também. O primeiro de todos e o que tem a maior identidade com nosso trabalho é o Carlos Motta. Hoje nós trabalhamos com Sérgio Rodrigues, que é o pai de todos, com Paulo Alves, Carlos Alcantarino entre tantos outros bons profissionais. A Butzke tem também designers de casa, como a minha filha, Marina Otte, que desenha grande parte dos nossos produtos.

Papo Design com Carlos Motta e Guido Otte na AZ

Carlos Motta e Guido Otte batem um papo delicioso sobre design na Armazém da Decoração

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Responsabilidade social e ambiental uniu o design de Carlos Motta à produção da Butzke de Guido Otte e tornou possível o delicioso papo design que aconteceu ontem em uma pequena recepção na loja da Armazém da Decoração em Goiânia com a ambientação de Genésio Maranhão. Fiquem com mais momentos desse encontro.
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“O respeito ambiental e social são, para mim, os dois pré-requisitos de um bom design” (Carlos Motta)
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“A última vez que vi ao salão do Móvel de Milão foi em 1981, eu não tenho a atitude de ir até Milão para ver, porque no fundo não é esse o meu vínculo com o design. A minha história com o design é mais intuitiva” (Carlos Motta)
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“O tempo todo o design está presente na minha vida, assim como o surf, minha família, meu amigos o respeito e a procura pelo entendimento. São coisas que estão interligadas” (Carlos Motta)
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“A Butzke me fez desenvolver algo que era um sonho. Meu sonho era trabalhar com uma madeira que denomino de madeira profissional sem depreciar o meio ambiente” (Guido Otte)
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“Eu comecei a introduzir o eucalipto no trabalho com a madeira, conquistei a certificação Forestry Stewardship Council (FSC) e nos tronamos a primeira empresa no Brasil com essa certificação” (Guido Otte)
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(Fotos: Marcos Camargo)

 

AZ recebe Carlos Motta e Guido Otte em happy hour na loja

A Armazém da Decoração recebeu, em uma pequena recepção, o designer Carlos Motta e o empresário e engenheiro civil Guido Otte

Guido Otte e Carlos Motta

Guido Otte e Carlos Motta

Em uma pequena recepção com clima descontraído, a Armazém da Decoração recebeu profissionais e clientes esta noite (13) para um bate papo com o designer Carlos Motta e o empresário da Butzke Guido Otte.

Durante o evento, o presidente da Butzke Guido Otte e o designer Carlos Motta trocaram um papo informal com o público sobre design, mercado e sobre os processos criativos e intuitivos do design moveleiro. Carlos Motta é um dos designers que compõe o quadro de colaboradores da Butzke, que utiliza o eucalipto para produzir móveis e peças de decoração.

“O que mais uniu nosso trabalho, independente da paixão e competência pela marcenaria, foi fato que tanto a Butzke como eu pautamos nosso trabalho em uma responsabilidade social e ambiental que, pra mim, são os dois pré-requisitos para um bom design”, explicou Carlos Motta. O designer contou também sobre seu trabalho e definiu seu processo de criação como algo bastante intuitivo.

Guido falou também sobre a importante da parceria de sua marca com designers de renome como Carlos Motta. “A Butzke procurava algo que a fizesse crescer e apresentar produtos mais elaborados feitos a partir de designers”, contou o empresário. “Foi aí que aparece na nossa vida a Maria Abadia que nos deu um empurrão para que conhecêssemos o Carlos Motta. Foi muito interessante, porque houve uma empatia entre a gente e disso surgiu um trabalho muito intenso e que vai muito longe ainda”, concluiu Guido.

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