Mobiliário urbano

O design mobiliário pensado para as cidades

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Quando falamos em design mobiliário estamos falando em móveis para casas e espaços corporativos, certo? Errado! A arquitetura tem um campo específico para o estudo e desenvolvimento de design mobiliário para as cidades. Para aqueles que já perceberam a importância da interação do homem com os centros urbanos no alcance de melhores condições de vida, podem imaginar a importância do mobiliário urbano para as cidades contemporâneas.

Na realidade, o mobiliário urbano cumpre funções tão essenciais nas cidades quanto o design mobiliário cumpre na decoração das casas e espaços comerciais. Já imaginou uma residência sem mesa de jantar ou cama? Pois é, mas algumas cidades seguem sem bancos, vasos ou abrigos para a espera de ônibus, enquanto que outras cidades instalam tais móveis pautados na lógica (ilógica) da arquitetura hostil.

Design urbano - Barcelona

Design urbano – Barcelona

O belo e receptivo mobiliário urbano faz parte da filosofia defendida pela arquitetura de integração. Quanto mais espaços abertos ao público, mais as cidades se tornam os quintais de sua população. Mais para além de se instalarem lixeiras, pontos de paradas de bicicletas e bancos, em alguns países a preocupação é com a implantação de equipamentos que satisfazem as necessidades estéticas. Ora, nada impede também que este mobiliário urbano seja algo bem parecido com os móveis feitos para as casas: ergonômicos e belos.

Na Dinamarca, por exemplo, é possível encontrar design assinado na rua. É o caso dos bancos dispostos na calçada da cidade de Sunderland, assinados pelo designer britânico Charlie Davidson. O Banco Charlotte, de Paulo Alves, também já foi usado em espaços públicos cumprindo bem sua função, já que o designer fez a peça pensando nesta finalidade.

Bancos design na Dinamarca

Bancos design na Dinamarca

Ponto de onibus design na Estonia

Ponto de onibus design na Estonia

Agora é a vez das bikes… e das cidades

Lembra-se do convite feito pelo arquiteto italiano Francesco Careri e a arquiteta pernambucana Lúcia Leitão durante a Flip? Aquele de “tomar as cidades” e aproveitar mais os espaços urbanos? Muitos brasileiros já estão os colocando em […]

Velib - Paris

Velib – Paris

Lembra-se do convite feito pelo arquiteto italiano Francesco Careri e a arquiteta pernambucana Lúcia Leitão durante a Flip? Aquele de “tomar as cidades” e aproveitar mais os espaços urbanos? Muitos brasileiros já estão os colocando em prática. 261 mil só em São Paulo para ser mais precisa. No resto do Brasil, a matemática fica mais difícil, mas os dados apontam um numero em constante crescimento. Já sabe do que estamos falando? Das bicicletas!

Fugir do transito, gastar menos, fazer esporte… As razões são muitas, mas quanto mais espaços as cidades reservam para as bikes, mais ciclistas ganham as ruas. No ano passado, a ONG Transporte Ativo e o laboratório de mobilidade da UFRJ fizeram um levantamento nas principais cidades brasileiras e constatou que 45% dos entrevistados eram novos ciclistas, ou seja, pessoas que adotaram a bicicleta como meio de transporte nos últimos dois anos.

A tendência é nova por aqui, mas na Europa a bicicleta é meio de transporte sério e levado a sério há mais tempo. Em Amsterdã, por exemplo, o turista se arrisca mais em andar na ciclovia do que se ficar passeando distraído pelas ruas – o país é conhecido pela quantidade exorbitante de pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte. Paris também tem suas tradições urbanas em duas rodas. A capital francesa foi uma das primeiras a inaugurar o sistema de alugueis de bikes, Velib.

Atualmente, as principais cidades brasileiras também têm aderido a esse sistema. Começando pela Bike Rio, no Rio de Janeiro, cidades como São Paulo e Brasília já contam com a possibilidade de aluguel de bicicleta – resultado da parceria entre as prefeituras e bancos. Agora é a vez de Goiânia. A capital goiana tem tentado fechar parcerias para a instalação de bicicletas públicas há um tempo. No início da semana, porém, a prefeitura deu um pontapé mais palpável: anunciou projeto que prevê a instalação de 30 estações com 300 bicicletas que serão espalhadas nos principais pontos da cidade.

Segundo a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos, responsável pela elaboração do projeto, cerca de 4% da população de Goiânia e 6% da região metropolitana já utilizam a bicicleta como meio de locomoção. A aposta é que disponibilizar bicicletas para alugueis vai aumentar esses números.

Vamos às ruas?

Flic debate arquitetura urbana com arquitetos que defendem maior intereção do homem com as cidades

Sem título

A 14ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começou na noite de ontem (29) e nem sempre o assunto da festa é literatura. O arquiteto italiano Francesco Careri e a arquiteta pernambucana Lúcia Leitão assumiram no primeiro dia de evento a mesa Cidades Refletidas com o desafio de incentivar a tomada dos espaços públicos e da arquitetura urbana.

Os arquitetos falaram sobre a importância de mudar radicalmente a maneira de explorar a cidade em que moram como um exercício para uma “prática democratizante”. A plateia saiu com uma missão: deixar de lado os carros e literalmente tomar as cidades.

Francesco Careri, autor do livro Walkscape: O caminhar Como prática Estética, é professor na Universidade Roma Ter e Lúcia Leitão, autora de Onde Coisas e Homens se Encontram, é professora na Universidade Federal de Pernambuco. Ambos defendem que a relação do homem com a cidade é responsável pela construção de uma sociedade melhor e mais igualitária.

“Um autor americano diz que cidade que não tem lugar para caminhar também não tem lugar para a alma”, lembrou Lúcia. “Vivemos negando a rua”, lamentou a arquiteta. “Há lugares que nós apagamos do nosso mapa mental ao andar de carro, por exemplo. É o que chamo de “amnésia urbana”. É preciso entender que existem regiões de sombra, uma parte escondida no inconsciente da cidade, que, aliás, sempre foram usadas pelas vanguardas artísticas”, explicou Careri quando desafiou a plateia a conhecer suas cidades.

E você? Conhece a sua cidade? Vamos tomar as suas e viver a arquitetura urbana?

E quando a arquitetura é um desserviço?

A arquitetura urbana quando projetada com foco na estética deixa valorizar as relações humanas

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O tema é polêmico e começou a ser estudado no início da década de 1990 com o nome “arquitetura hostil”. Hoje, esse tipo de arquitetura pode ser detectado em todos os centros urbanos. É aquele banco que não se pode sentar, aquele corrimão onde é desconfortável encostar e aquele jardim onde não se pode desfrutar. A arquitetura chamada de hostil visa manter a beleza dos espaços públicos, espantado seu público de lá.

A polêmica vem quando, de um lado, os defensores da arquitetura de integração divergem daqueles que acham que espaços públicos são feitos para serem apreciados, e para se apreciar não é possível usufruir. Essa história chamou a atenção na capital inglesa, quando a prefeitura encomendou bancos esculpidos em concreto cinza com a superfície inclinada e resistentes à pichações. Eles foram batizados de bancos Camden – nome do distrito londrino que inaugurou os assentos.

A ideia era tirar os skatistas do local, já que os bancos anteriores eram usados pelos amantes do skateboard para aperfeiçoarem suas manobras. Além dos bancos Camden, Londres – e muitas cidades brasileiras, claro! – andaram distribuindo em suas praças outras espécies de assentos que ficaram conhecidas como antimendigo. Neles, algumas pontas distribuídas como espetos impedem que as pessoas fiquem muito tempo sentadas e, consequentemente, que os mendigos se deitem.
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Segundo matéria publicada no jornal britânico The Guardian, os skatistas tentam subverter os bancos Camden fazendo aquilo que sabem melhor. “Hoje estamos mostrando que você ainda pode andar de skate aqui”, disse Dylan Leadley-Watkins para o jornalista do periódico. Os espetos foram removidos depois que uma petição online conseguiu 100 mil assinaturas fazendo com que o prefeito de Londres aderisse às críticas, mas a discussão ficou aberta.

Arquitetos colocaram na pauta o debate de que as cidades estão se tornando menos acolhedoras para certos grupos. Nessa lista entra também outros truques urbanos que influenciam o comportamento do cidadão como a pavimentação irregular e desconfortável e até circuito de auto-falantes com sonoras antiadolescentes: dispositivos mosquito que emitem sons irritantes de alta frequência que só os adolescentes escutam.

“Uma grande parte da arquitetura hostil é adicionada posteriormente ao ambiente da rua, mas é evidente que “quem nós queremos neste espaço, e quem nós não queremos” é uma questão consideradas desde cedo, no estágio do design”, disse em entrevista para o The Guardian o fotógrafo Marc Vallée, que tem documentado a arquitetura antiskate.

Em sua matéria, o jornal britânico lembrou a relação entre a arquitetura hostil e o desrespeito às diferenças sociais na fala de Rowland Atkinson, co-diretor do Centro para a Pesquisa Urbana da Universidade de York, que sugere que os espetos e a arquitetura relacionada são parte de um padrão mais abrangente de hostilidade e desinteresse em relação à diferença social e à pobreza produzida nas cidades. E você, o que acha dessa modalidade de arquitetura?
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