Entre os pensadores do século 20 que defenderam uma arquitetura mais humanizada e integrada à natureza, o artista e arquiteto austríaco Firedensreich Hundertwasser é um destaque. Nascido em 1928, ele estudou na Academia de Belas Artes de Viena e desenvolveu uma série de manifestos e ensaios com novas propostas para a arquitetura.
Hundertwasser era contra a arquitetura racional, monótona e repetitiva. Ele rejeitava linhas retas e acreditava na espiral, que seria a forma como o ser humano se relaciona com o mundo ao redor. Para o arquiteto, cada pessoa tem o seu “ser”, mas se rodeia de outras camadas que determinam sua relação com os outros e com o espaço.
As cinco peles
O homem, na opinião de Hundertwasser, tem cinco peles: a epiderme natural, o vestuário, a moradia, a identidade social e o mundo. A epiderme é uma proteção para o corpo e nossa forma de contato primária com o externo. O vestuário é uma forma de afirmação no mundo, uma expressão da própria essência.
A moradia, o lar, representa a maneira como cada ser imprime criatividade no espaço urbano que lhe é confiado. A partir de sua visão artística e ecológica, Hundertwasser defendia que a casa deveria ser autêntica e integrada à natureza. Propunha linhas irregulares, integração de árvores, telhados arborizados, não nivelamento do solo, diferentes cores e muitas janelas.
Em 1970, ele começou a construir seus primeiros projetos arquitetônicos. A maioria de seus trabalhos se concentram em Viena, como a Fernwärme Wien, uma usina térmica que usa lixo para produção de energia; a Casa de Arte de Viena, cuja principal obra é o próprio edifício; e a Casa das Cem Águas, um prédio residencial de caráter social.
A identidade social é a quarta pele, e se refere ao que nos afiliamos para constituir grupos ou comunidades. Ou seja, as afinidades permitem que vivamos em coletividade. A crosta terrestre que nos abriga, o mundo, é a quinta pele. E Hundertwasser sempre apontava para a necessidade de cuidar do meio ambiente e viver em contato – e não em guerra – com a natureza.
A teoria das Cinco Peles é apenas uma das colaborações de Firedensreich Hundertwasser à arquitetura, pois ele teve uma vasta produção intelectual e prática. Ele morreu em 2000, aos 71 anos, na Nova Zelândia, país que adotou como segunda casa.