Há cerca de 100 anos atrás, o mundo ainda comentava o naufrágio da maior invenção da engenharia náutica, o Titanic, e discutia os rumos da Primeira Guerra Mundial, que só chegou ao fim em 1918. Há 100 anos, as mulheres ainda se viam reféns do espartilho e dos vestidos de gala que hoje servem como fantasias finas para festas temáticas. Há cem anos, artistas inauguraram movimentos vanguardistas que assustavam o gosto dos mais tradicionais. Hoje, quase tudo de 100 anos atrás não passa de passado… Quase tudo…
Em 1913 nascia em Milão um artista raro, dono de uma obra que não envelheceu um dia em mais de 100 anos. Piero Fornasetti foi ilustrador, escultor, pintor, designer gráfico e artesão. Sua obra nascia sempre de uma imagem encontrada em uma folha de revista, ou em um pedaço de lembrança do seu passado. Mas foi o rosto da soprano Lina Cavalieri, encontrada em uma revista do século 19, que se tornou o símbolo maior de sua obra – centenas de peças foram feitas com a imagem de seu rosto que ganhou mais de 350 versões diferentes.
Os desenhos do milanês foram transformados em cinzeiros, mobiliário, pratos, papéis de parede e muitos outros objetos. Após a morte do artista, em 1988, seu filho, Barnaba Fornasetti, cuidou para que seu trabalho não fosse esquecido. Barnaba leva adiante o legado do pai e organiza o acervo e as exposições com os trabalhos de Fornasetti.
“Eu me lembro que, aos 3 anos, eu trouxe do parque uma folha de hortênsia, e ele a transformou em um desenho para uma de suas obras”, contou certa vez Barnaba. Fornasetti criou 11 mil produtos de todos os tipos entre móveis e peças de design, como pratos, vasos, lustres, tecidos e azulejos.