COP26 acelera discussões sobre o clima, mas divide opiniões de ambientalistas

Com início do dia 31 de outubro, em Glasgow, na Escócia, a Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas – COP26, chegou ao fim com um acordo para tentar garantir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC. Mais de duzentas nações participaram do evento, considerado uma corrida contra o tempo pela preservação do planeta.

Após duas semanas de negociações, o chamado “Pacto de Glasgow para o clima” avançou em certos pontos, mas foi criticado por ambientalistas devido a algumas contradições. O texto estabelece as medidas que devem ser tomadas para reduzir as emissões de dióxido de carbono em 45% (CO2) até 2030 e neutralizar a liberação de CO2 até 2050.

O acordo defende a necessidade de fazer a transição energética para fontes de energia limpas, substituindo combustíveis fósseis e o uso de carvão, mas não há datas ou metas para essa redução. A proposta inicial falava sobre “eliminar” o uso de carvão, mas por pressão de alguns países foi modificada.

Perdas e danos

No Acordo de Paris, em 2015, os países mais ricos prometeram US$ 100 bilhões anuais, a partir de 2020, para ajudar nações vulneráveis que foram mais afetadas pelas mudanças do clima. Essa promessa ainda não foi cumprida e, na COP26, os países em desenvolvimento pediram a criação de um “fundo de perdas e danos” para ajudá-los a enfrentar emergências climáticas.  

Esse pedido foi negado, principalmente pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Em vez disso, o acordo fala em fortalecer parcerias entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, para ajudar no enfrentamento aos danos causados pelo aquecimento global.  

Saldo final

Ambientalistas reconhecem que a falta desse acordo em favor dos países mais pobres foi um fracasso da COP26. Mas, pela grande participação no evento, que foi histórica, muitos reconhecem que o texto aprovado será positivo, desde que as nações se comprometam a segui-lo de agora em diante.

A ativista sueca Greta Thunberg, de 18 anos, comentou no Twitter que a COP26 foi apenas “blá, blá blá” e que o “verdadeiro trabalho” continuaria fora dos corredores da conferência. Segundo Greta, “pequenos passos na direção certa, fazer algum progresso ou ganhar lentamente equivalem a perder”.

Brasil na COP26

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, chefiou a delegação brasileira que compareceu à COP26. A imagem do Brasil em relação à preservação do meio ambiente já estava comprometida, devido ao aumento desmedido do desmatamento da Amazônia, mas o ministro não comentou esses temas.

“O governo tentou passar uma imagem de país que protege o meio ambiente, que tem o que ensinar nesse sentido, mas foi desmentido pelos fatos”, opinou Suely Araujo, especialista sênior em políticas públicas, ao G1. “Não se apagam mil dias de destruição da política ambiental com mero discurso”, completou, referindo-se à política ambiental do governo Bolsonaro.

Uma delegação de lideranças indígenas, a maior já presente em conferências desse tipo, também tentou se integrar às discussões oficiais e dar voz aos povos originários, que estão sofrendo com o desmatamento das florestas. Na abertura da COP26, a brasileira Txai Suruí fez um discurso cobrando agilidade nas ações contra o aquecimento global.

Primeira indígena a discursar na abertura de uma conferência sobre clima, Txai Suruí é coordenadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e trabalha na ONG de defesa dos direitos indígenas Kanindé. 

Txai Suruí: Reprodução/Instagram

O discurso dela, que expôs o tratamento dado pelo governo brasileiro aos povos originários, irritou o presidente Jair Bolsonaro, que não compareceu ao evento. “A minha forma de responder é continuar a denunciar o que está acontecendo, é levar cada vez mais a minha voz (…) para o mundo”, respondeu Txai aos ataques indiretos do presidente.

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