É comum olharmos para o céu em um dia ensolarado e enxergamos formas, rostos e objetos em nuvens brancas que passam por nós e nos lembram padrões como pessoas ou animais e plantas. A ciência logo tratou de dar um nome para esse desejo do cérebro humano de buscar forma para aquilo que parece um contorcido sem significado. Nosso cérebro é programado para reconhecer faces e silhuetas com agilidade em diversas situações, e esta falha recebe o nome de pareidolia. Mas o que essa aula de ciências tem a ver com design?! Bom, tem tudo a ver com o design de Hugo França.
Erradicado da faculdade de engenharia, Hugo França começou sua carreira há 15 anos quando desenvolveu uma relação muito íntima com a natureza e o ecodesign. Atualmente, Hugo é considerado um dos maiores designers contemporâneos com trabalho exposto e bem representado em Nova York pela R20th Century Gallery. “Sua relação com a natureza é algo extraordinário. Hugo tem um talento nato para saber exatamente como manipular as formas naturais”, resume Zesty Meyers, diretor da galeria.
Como nosso cérebro que vê forma nas nuvens, Hugo vê forma e utilidade em tudo que a natureza produz. O designer transforma troncos semi-queimados, canoas abandonadas e raízes de grandes árvores em objetos de decoração e peças de mobiliário. Aqui, mais uma vez, a linha entre arte e design é quase invisível. Hugo usa sua percepção e a pareidolia para criar objetos que vão desde esculturas até pia de banheiro e tudo em resíduos florestais e materiais lenhosas.
Segundo o próprio designer, tudo começa e termina na árvore. Gaucho de nascença e baiano de vivência, Hugo se mudou para Trancoso na década de 1980 onde começou a desenvolver suas “esculturas mobiliárias”, produção que ele executa a partir de resíduos florestais e urbanos. São árvores condenadas naturalmente por ação das intempéries ou pela ação do homem que dentro de uma casa passam a ter uma função. As peças criadas pelo designer nascem de um diálogo criativo com a matéria-prima em um trabalho extraordinário.